VIDA URBANA
MPT pede inquérito contra Coopanest e Simed
Órgão afirma que entidades vêm praticando crimes contra a organização do trabalho.
Publicado em 15/08/2014 às 14:54
O procurador do Trabalho, Eduardo Varandas Araruna, requisitou nesta sexta-feira (15) a abertura de inquérito policial na Polícia Federal contra a Cooperativa dos Anestesiologistas da Paraíba (Coopanest) e do Sindicato dos Médicos do Estado da Paraíba (Simed). O procurador entendeu que as entidades vêm praticando crimes contra a organização do trabalho, principalmente atentado contra a liberdade de contrato de trabalho, boicotagem violenta e paralisação de trabalho de interesse coletivo.
Segundo o Ministério Público do Trabalho (MPT), estão sendo apurados em sede de inquérito civil, presidido por Varandas, fatos de que a Coopanest estaria pressionando os médicos anestesiologistas oriundos de outros Estados para deixarem seus postos de trabalho no Hospital de Emergência e Trauma Senador Humberto Lucena a fim de causar o colapso nos serviços hospitalares e pressionar o Governo do Estado e o próprio MPT a admitir o retorno das cooperativas médicas aos hospitais públicos. Um dos depoentes, médico concursado do Estado, chegou a enfatizar que integrantes da cooperativa teriam dito no hospital, em alta voz, que “quando morresse o primeiro paciente, o MPT recuaria a aceitaria a cooperativa de volta”.
Há também, no inquérito, suposta comunicação entre entidades médicas paraibanas e Centros de Ensino e Treinamento do Rio de Janeiro acusando os anestesiologistas cariocas de falta de ética, conduta imoral e esquema criminoso simplesmente por exercerem seus ofícios na Paraíba, numa tentativa, no entender do procurador, de boicotar o bom funcionamento do Hospital de Trauma.
Outros provas adquiridas no mesmo inquérito demonstraram, segundo Varandas, que a Coopanest também seria responsável pelas paralisações ocorridas após setembro de 2013 no Hospital Infantil Arlinda Marques, “o que acarretou o adiamento de inúmeras cirurgias infantis e danos irreparáveis à população”. Segundo depoimentos de vários médicos, inclusive anestesiologistas, a cooperativa teria impedido a contratação individual desses profissionais, “cancelando assim as cirurgias eletivas agendadas”. De acordo com o procurador, foram 52 dias com o Arlinda defasado em seus quadros funcionais, com apenas 4 anestesistas, e estes sofreram assédio moral do conselho de ética da Coopanest.
Todas as provas que o MP tem foram encaminhadas à Polícia Federal. “A situação em apuração é gravíssima e exige postura enérgica contra este tipo de conduta. Já comunicamos o fato ao Ministério Público Federal e, agora, requisitamos investigação policial. A população não pode sofrer por disputa de mercado de trabalho entre entidades classistas, principalmente levando-se em conta que a saúde é um direito indisponível do cidadão”, afirmou Varandas.
Sem respostas
A reportagem entrou em contato com o presidente da Coopanest, Azuil Vieira, para que ele falasse sobre as acusações do MPT. No entanto, o médico disse que não podia falar no momento.
O presidente do Sindicato dos Médicos, Tarcísio Campos, também foi procurado, mas não atendeu as ligações telefônicas.
Entenda o caso
O MPT ingressou na Justiça do Trabalho, em maio de 2006, requerendo a ilegalidade da terceirização de serviços médicos através de cooperativas. A sentença transitou em julgado (não cabe mais recurso) e o processo se encontra em fase de execução. No entanto, apesar das multas já aplicadas a todas as cooperativas médicas, elas ainda permanecem atuando. O órgão informou que estuda a possibilidade de pedir a dissolução judicial dessas entidades como forma de “restabelecer a ordem no sistema público de saúde”.
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