VIDA URBANA
Número de homicídios cresce 53% em Campina e jovens lideram lista
Nos últimos cinco anos, 690 pessoas foram assassinadas na cidade por inúmeros motivos, sem contabilizar os dados deste ano, que já somam 32 até a última quinta-feira, dia 24.
Publicado em 27/03/2011 às 15:29
Silvana Torquato
Do Jornal da Paraíba
A banalização da violência, sobretudo o dano à vida, tem sido um dos maiores problemas enfrentados pela sociedade brasileira. Em Campina Grande, cidade localizada no Agreste paraibano, a realidade não é diferente, pois a cada ano o número de homicídios vem crescendo e jovens em idade produtiva são as principais vítimas.
Nos últimos cinco anos, 690 pessoas foram assassinadas na cidade por inúmeros motivos, sem contabilizar os dados deste ano, que já somam 32 até a última quinta-feira, dia 24. Fazendo um balanço desse aumento, pode-se afirmar que houve um crescimento de 53% se comparado os dados de 2006 (123 homicídios) com os de 2010 (189).
Nesse período de cinco anos (2006 a 2010), o ano mais violento foi o de 2010, com 189 assassinatos, ou seja, a cada dois dias uma pessoa morreu de forma violenta na cidade. “Isso se deve também por ter sido um ano eleitoral, onde as discussões entre as pessoas ficaram mais acirradas”, disse a delegada de Homicídios de Campina Grande, Cassandra Guimarães. E o meio mais empregado para tirar a vida de uma pessoa continua sendo a arma de fogo, com 426 registros, representando 61,7% do total de assassinatos nesse período. Outro ponto de destaque nessa violência urbana é que jovens entre 18 e 24 anos representam a maioria dos homicídios, 226, vindo em seguida pela faixa etária de 35 a 64 anos, que são 113.
Para a delegada de Homicídios de Campina Grande, Cassandra Guimarães, a maioria dos crimes que aconteceu no município foram motivados por relações interpessoais, quando há uma rixa, motivo de vingança e cobrança de dívida. “Mesmo tendo forte atuação na cidade, o tráfico de drogas aparece nessas estatísticas como pano de fundo na prática desses homicídios. O que leva uma pessoa a cometer um crime são mais as discussões, que em muitos casos, são por motivo fútil”, afirmou.
Outra preocupação dos órgãos de segurança e que também é um dos principais fatores para a prática de assassinatos na cidade é o alto índice de pessoas que andam armadas e encontram facilidade para comprar armas de fogo. “Precisaríamos um trabalho mais social para que esses jovens fossem desarmados, isso ajudaria em muito a diminuição nos casos de homicídio. Teríamos que combater o mal na fonte e coibir de vez a venda de armas”, enfatizou.
Cinco localidades também foram apontadas pela Polícia Civil como sendo as mais violentas da cidade onde aconteceram mais homicídios entre 2006 e 2010: José Pinheiro (50), Pedregal (48), Bodocongó (41), Centro (40) e o distrito de São José da Mata (31). Um destaque nesses números é o aumento de crimes cometidos no Centro da cidade. Considerado por muitos, como lugar de muita movimentação e merecimento de maior atenção por parte das forças policiais, já que se caracteriza como área comercial, onde inclui bancos e lojas, o Centro de Campina Grande se apresentou nesses últimos cinco anos com um elevado número de homicídios.
Na avaliação de Cassandra Guimarães, José Pinheiro e Pedregal já são, historicamente, considerados bairros violentos, com incidência maior de crimes. “Nesses casos, seria necessário uma atuação maior da força policial ostensiva e à medida que se faz um trabalho mais preventivo nessas áreas, o número de homicídios tende a diminuir”, afirmou.
Já em relação ao Centro, a delegada disse que o índice de crimes aumentou por ser uma área de lazer, onde se concentra grande aglomeração de pessoas em bares e outros empreendimentos festivos.
O cientista político e professor da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), José Maria Nóbrega aponta vários fatores para esse aumento de homicídios na cidade, que é considerada de médio porte. Mesmo tendo uma melhoria no âmbito socioeconômico, reduzindo, assim, a pobreza e a desigualdade, o aumento da renda familiar e a fragilidade das instituições de coerção terminaram contribuindo para esse alto índice de assassinatos nos últimos anos. “Se não melhorar a qualidade da polícia e implantar mais políticas públicas, essa tendência só tende a crescer”, afirmou.
Hoje, a Delegacia de Homicídios trabalha com dois delegados, Cassandra Guimarães (titular) e Francisco Assis da Silva (adjunto), oito agentes e dois escrivães.
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