CULTURA
'Chego aos 71 anos segura de que nasci para isso', revela Maria Bethânia
Cantora, que vem a João Pessoa com nova turnê, fala sobre carreira, shows e internet.
Publicado em 14/08/2017 às 19:20
“Você pode falar um pouquinho mais alto? Eu não estou te ouvindo bem”. A voz inconfundível era dela: Maria Bethânia. No meio de uma agenda agitada, entre reuniões e ensaios para seu espetáculo, ela mesma atendeu a ligação do JORNAL DA PARAÍBA, que nem passou pelo crivo de sua empresária, algo que a reportagem esperava que fosse acontecer.
Surpresas à parte, principalmente refletidas no gaguejar do repórter, Bethânia estava simpática. E também empolgada para falar sobre sua mais recente turnê, que desembarca em João Pessoa nesta quinta-feira (17) com uma apresentação única no Teatro Pedra do Reino. “É um show muito feliz e alegre, para eu ficar mais perto e cantar as coisas que as pessoas gostam”, diz.
Acostumada com grandes plateias e trabalhos elaborados no palco, Bethânia conta que a diferença entre os shows anteriores e este é a proximidade maior com o público, que tem a oportunidade de relembrar diversas fases de sua carreira, além de embarcar com ela na montanha-russa de emoções que representa o seu vasto repertório.
“Os meus espetáculos mais teatrais são os de sempre, mas têm uma distância. E para esse eu quis reunir canções de sucesso que tenho prazer de cantar ou que às vezes não foram tão aplaudidas e que não estão na memória das pessoas, mas que me dão grande alegria de partilhar no meio do público”, ressalta.
Curiosamente, ao contrário do que costuma acontecer, este novo espetáculo, segundo Bethânia, foi concebido por acaso, quando ela recebeu um convite para se apresentar em sua cidade natal, Santo Amaro (BA). Como não havia estrutura em praça pública para a turnê 'Abraçar e Agradecer', que comemorou seus 50 anos de carreira, a solução foi montar algo "simples", mas que pudesse agradar a diferentes gostos.
“Quando montei, pensei em algo que as pessoas iriam gostar de ouvir, pegar na mão, dar um beijinho. Era uma coisa para a minha cidade, mas virou um prato gostoso, eles gostaram e estou fazendo”, menciona a artista que, logo em seguida, levou a apresentação para Salvador, onde tocou para 40 mil pessoas.
“Para todos os lugares para onde tenho ido e onde normalmente não chego com meus espetáculos, tem sido muito bonito – não só para eles, mas para todos nós, para eu refletir, ver o que eu quero fazer de volta... Eu gosto muito de fazer, me sinto muito reverenciada”.
Passado, presente e futuro
Com uma história artística que se confunde com a própria história da música popular brasileira, Bethânia continua um fenômeno, mantendo intactos o interesse e o afeto do público em relação à sua figura. Apesar de modesta, ela observa que o sucesso e a reverência que recebe não são em vão, e sim frutos de extrema disciplina e dedicação, evidentes para quem acompanha sua trajetória.
“Chego hoje aos 71 anos segura de que não me enganei, que nasci para isso. Eu amo fazer isso, minha vida é para isso. Eu dedico todos os dias, todas as noites, todos os momentos da minha vida para isso. Me preparo emocionalmente e fisicamente só para isso”, salienta, definindo indiretamente sua arte como sagrada. “É igual a um padre quando entra para celebrar uma missa”.
E é na “igreja” de Bethânia que os fiéis passaram a se contentar com o que ela oferece, da forma e no tempo em que ela decide oferecer. Em plena atividade, mas ao mesmo tempo reservada, a artista não cedeu às facilidades da internet e diz que não pretende se aventurar nas redes sociais por não ter paciência.
“Tudo ali demora muito para acontecer, a linguagem de computador é lentíssima. Até a carroça era mais ágil. Colocava o burro e ela andava. Computador depende de sinal e aí eu desisto”, admite de forma enfática, apesar de reconhecer os benefícios da web, epecialmente com o consumo de música online.“Tem coisas extraordinárias a que eu tenho acesso e procuro alguém para me ajudar ou me trazer preparado. Mas também é uma lixeira que eu quero distância, tem muita coisa ruim”.
Fogo que elimina e alivia
Bethânia se define essencialmente como intérprete e não esconde que gosta do título. Tendo eternizado em sua voz obras de grandes compositores da MPB como seu irmão Caetano Veloso, Chico Buarquee Vinícius de Moraes, ela confessa não ambicionar esse outro rótulo, consciente de suas limitações.
“Eu não sou compositora, isso é esporádico”, comenta, puxando pela memória algumas poucas músicas de sua autoria como 'Trampolim', que compôs com Caetano para o álbum 'Drama - Anjo Exterminado', 'Caras e Bocas', que fez para Gal Costa no final dos anos 70, e a mais recente 'Carta de Amor', que deu título a um de seus últimos espetáculos.
“Essa foi o meu jeito de responder a alguém que me feriu, foi a minha maneira”, explica a cantora sobre esta última, trazendo à tona o fato de já ter dado fim às demais letras que fez. “Escrevo e queimo normalmente. Porque é bom, porque vira sagrado, porque já aliviou meu sentimentos, resolveu, esclareceu e fim”.
Serviço:
Maria Bethânia - Grandes Sucessos
Quando: Quinta-feira, dia 17 de agosto, às 21h
Onde: Teatro Pedra do Reino, Rod. PB-008, Km 5, S/N - João Pessoa/PB
Ingressos: 3º lote - R$ 340 (plateia VIP inteira) | R$ 320 (plateia A lateral inteira) | R$ 160 (plateia A lateral meia) | R$ 280 (plateia B inteira) | R$ 140 (plateia B meia) | R$ 240 (balcão inteira) | R$ 120 (balcão meia)
Vendas: Site Tudus e CNA Manaíra, Av. Esperança, 1265, Manaíra - João Pessoa/PB
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