Soul com muita alma

Aclamada como uma das grandes cantoras soul da atualidade, a veterana Sharon Jones lança, este mês, Give the People What They Want, seu 5º disco de estúdio na companhia da formidável The Dap-Kings. Entretanto, o álbum de dez faixas vazou na internet e já pode ser ouvido em vários meios não oficiais.

A história da Sra. Jones, hoje com 57 anos, é digna das telas grandes: moça que nasceu pobre, cresceu imitando James Brown (que nasceu na mesma cidade que ela), se tornou uma razoável cantora de igreja, tentou carreira na música e, sem sucesso, foi ser carcereira de presídio e segurança particular.

Descoberta em 1996, já perto dos 40, quando fazia backing-vocal para o lendário cantor funk Lee Fields, estreou em disco somente em 2002 pela gravadora vintage Daptone Records e, enfim, viu sua estrela brilhar.

Em junho do ano passado, anunciou que daria um tempo na carreira para tratar de um câncer no ducto biliar em estágio inicial - o que acabou atrasando o lançamento de Give the People What They Want.

Fez uma cirurgia de grande sucesso, ficou de molho e conseguiu se recuperar bem a ponto de, em novembro, já estar de volta a estrada.

O DISCO NOVO

Inicialmente planejado para ser lançado em agosto, Give the People What They Want chega às lojas dos Estados Unidos no dia 14 de janeiro, mais uma vez pela Daptone Record, selo que se especializou em música negra vintage, emulando o som retrô de gravadoras como Motown e Stax.

Há muito soul, mas também funk e gospel na receita de Sharon Jones & The Dap-Kings. Conhecida por ser uma banda extraordinariamente quente no palco, os The Dap-Kings tentam levar para o estúdio o molejo de suas apresentações (para se ter uma ideia, a banda foi emprestada a Amy Winehouse para que ela gravasse seu best seller Back to Black).

O repertório abre com a vigorosa 'Retreat!', cujo arranjo pincelou tintas de psicodelia que acabaram por inspirar um videoclipe de animação com forte teor lisérgico.

Na sequência, os sopros ganham destaque em ‘Stranger to my happiness’ e, em seguida, o repertório emplaca ‘We get along’, a primeira das três baladas do CD, esta digna de Amy Winehouse.

‘You'll be lonely’ busca inspiração no conterrâneo de Sharon, James Brown, com um funk malemolente, enquanto a levada de ‘Now I see’ poderia ter saído do repertório de Ray Charles, um encontro entre o blues e o gospel.

‘Making up and breaking up (and making up and breaking up over again)’ é balada convencional, enquanto ‘Get up and get out’ passeia pelos arranjos vocais dos anos 50.

Nessa levada, o disco segue como propõe o título: dar ao ouvinte o que ele quer ouvir, um disco de soul honesto, muito bem executado e com o brilho de uma estrela autêntica.

Ouça trechos de 'Give the People What They Want' no site da cantora.