ECONOMIA
PIB cai 0,6% e Mantega nega início de recessão
Cenário internacional desfavorável fez PIB cair pela segunda vez consecutiva no ano.
Publicado em 30/08/2014 às 6:07
Sob impacto negativo da Copa, de freada do consumo das famílias e forte retração dos investimentos, o PIB brasileiro caiu 0,6% no segundo trimestre na comparação com os três primeiros meses deste ano. Em valor, o PIB do país somou R$ 1,271 trilhão. Em relação ao segundo trimestre de 2013, a economia do país encolheu em 0,9%. Os dados foram divulgados pelo IBGE ontem.
Como o resultado do primeiro trimestre foi revisado para queda de 0,2% (contra alta de 0,2% informado anteriormente), segundo parte dos economistas, o país entrou em recessão técnica.
O termo, entretanto, é controverso. Alguns especialistas questionam a abordagem tradicional de considerar que a queda do PIB por dois trimestres seguidos configura recessão técnica. Eles argumentam que os dois recuos são pequenos e o desemprego no país é baixo. É a primeira recessão técnica desde o fim de 2008, quando houve recuo de 3,9% no último trimestre daquele ano e de 1,6% no trimestre seguinte.
Na avaliação do ministro da Fazenda, Guido Mantega, mesmo com o fato de ter ocorrido dois trimestres seguidos de queda no PIB - que já havia caído 0,2% no trimestre anterior - seriam necessários mais resultados negativos para se ter certeza de que o país entrou em recessão. Ele assinalou que os primeiros indicativos da produção industrial para o terceiro trimestre já mostram recuperação do crescimento econômico. Ele ainda enfatizou que a inflação também já deu sinais de acomodação, e a massa salarial permanece em alta.
"Na minha opinião, não dá para falar em recessão. Recessão é uma parada prolongada, como ocorreu com os países europeus e ocorre quando há desemprego", avaliou. Ele disse que, no primeiro semestre, o Brasil conseguiu criar 500 mil novas vagas de trabalho.
Para Silvia Matos, da FGV (Fundação Getulio Vargas), o fato da economia contrair por dois trimestres não é necessariamente uma recessão, pois as taxas de queda são moderadas (em especial a do primeiro trimestre, que foi revisada) e o mercado de trabalho, já em desaceleração, não se mostra ainda em crise. Ela reconhece, porém, que muitos economistas avaliam o cenário como recessivo.
Segundo Rebecca Palis, gerente do IBGE responsável pelo PIB, as revisões são necessárias para aplicar o ajuste sazonal, o que permite a comparação com o trimestre anterior, excluindo efeitos típicos de cada período (como feriados fixos e maior volume de safra concentrada em um trimestre). Palis disse que é "preciso tomar cuidado" com taxas muito próximas a zero, como a do primeiro trimestre (revista de 0,2% para -0,2%), que pode voltar a ser positiva após nova revisão, nos cálculos do terceiro trimestre.
Os resultados apresentados pelo IBGE ficaram piores que as previsões de mercado. A média das projeções de bancos e consultorias apontava para uma queda de 0,4% frente ao primeiro trimestre e de 0,5% na comparação com o mesmo período de 2013, segundo pesquisa da Bloomberg.
Com o resultado do segundo trimestre, a economia brasileira acumula alta de 0,5% nos seis primeiros meses deste ano e caminha, segundo analistas, para fechar o ano com um crescimento de só 0,7% -se confirmada a projeção, será o pior desempenho desde 2009, quando a queda foi de 0,3%, verificada no auge da crise global. Nos últimos quatro trimestres encerrados em junho, o PIB soma uma alta de 1,4%. Do primeiro para o segundo trimestre, ditaram o tombo do PIB a indústria e os serviços, com quedas de 1,5% e 0,5%, respectivamente. A agropecuária teve leve alta de 0,2%.
MÊS DA COPA INFLUENCIOU DESEMPENHO
Para Silvia Matos, economista da FGV, a retração do PIB já era esperada. O efeito da Copa do Mundo, segundo ela, foi mais sentido em junho, no início da competição. Isso porque houve um acúmulo maior de feriados excepcionais nas cidades-sede e dias de dispensa antecipada de trabalhadores.
Com menos pessoas a produzir, a economia encolheu. "Uma estagnação ou uma pequena queda já era esperada, mas a Copa ajudou o resultado a ser um pouco pior." Desde o fim de 2013, o PIB está estagnado, passado o boom do crédito e sob efeito de juros e inadimplência maiores. Endividadas, as famílias já não têm o mesmo ímpeto para gastar.
A inflação maior neste ano (e concentrada em alimentos) também corroeu seus rendimentos, o que freou o consumo de bens de menor essencialidade.
Os investimentos, por seu turno, sofrem com a menor confiança de empresários, também com mais juros mais elevados e bancos menos dispostos a emprestar diante das incertezas da economia do país.
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