POLÍTICA
Violência armada: 28 crianças e adolescentes baleadas foram atendidas em hospital de João Pessoa em 2024
O número é 50% maior em relação ao mesmo período do ano passado, quando foram registrados 18 casos.
Publicado em 06/04/2024 às 12:41
O Hospital de Trauma de João Pessoa atendeu 28 crianças e adolescentes baleadas, entre janeiro e o início de abril de 2024. O número é 50% maior em relação ao mesmo período do ano passado, que aponta 18 casos, sendo todas as vítimas identificadas como adolescentes. Os números foram solicitados pelo Núcleo de Dados da TV Cabo Branco.
Como os dados de crianças e adolescentes baleadas são apenas de atendimentos realizados em um hospital, os números podem ser maiores se considerarmos que as vítimas podem ter sido socorridas e levadas para outras unidades hospitalares da região de João Pessoa.
Nesta primeira semana de abril, duas crianças foram vítimas de arma de fogo com uma diferença de 48 horas de um caso para o outro.
Uma das vítimas foi Gabriel dos Santos Silva, de 3 anos, que morreu na terça-feira (2) após receber um tiro na cabeça, em Santa Rita. Ele foi socorrido e levado para a Maternidade Flávio Ribeiro Coutinho, em Santa Rita, que constatou o óbito. O caso, por exemplo, não foi contabilizado no levantamento por não ter sido atendido no Hospital de Trauma de João Pessoa.
O outro caso registrado é de um menino de 10 anos atingido com um tiro de raspão no braço, em Bayeux, na madrugada da quinta-feira (4). A vítima passou por procedimentos médicos de emergência e recebeu alta pela manhã. No mesmo crime, duas mulheres foram mortas, sendo uma delas a mãe da criança.
O maior número de vítimas são adolescentes
O levantamento do Hospital de Trauma de João Pessoa contabiliza 28 casos de crianças e adolescentes baleados até 4 de abril de 2024.
Nos primeiros meses deste ano, o maior número de vítimas são adolescentes, representando 25 casos. Outras três crianças foram atingidas por tiro.
O mês de março foi o mais violento de 2024, registrando 10 casos de vítimas de arma de fogo.
Em 2023, o número total de baleados é 78 casos, sendo os meses de outubro e novembro os mais violentos, contabilizando 10 casos cada. São 71 vítimas identificadas como adolescentes e 7 crianças baleadas.
Entre janeiro e abril de 2023, foram atendidos 18 casos de crianças e adolescentes baleados. Todos as vítimas foram adolescentes do sexo masculino e o mês mais violento foi abril, sendo 8 casos.
A reprodução da violência
O psicólogo Vinícius Gouveia disse, em entrevista à CBN João Pessoa, que as crianças e adolescentes vítimas de arma de fogo podem sofrer com efeitos psicológicos profundos e duradouros, resultado do contato com a violência. De acordo com ele, as vítimas podem ser diagnosticadas com estresse pós-traumático.
“O que a gente entende por estresse pós-traumático é justamente a criança estar revivendo a experiência, esse estresse, então tendo picos de tensão e de ansiedade, que aí vão provocar sintomas de flashback, de reviver, de pesadelos, de ansiedade extrema, medo constante, essa criança vai perder o senso de segurança dela a partir do momento que vive algo assim”, afirma o psicólogo.
Também em entrevista à CBN João Pessoa, o especialista em segurança pública Gustavo Batista afirmou que somos resultado da nossa socialização, por isso, é importante criar contextos de promoção à cultura, esporte, lazer e educação, com objetivo de evitar um “aprendizado social acerca da violência”.
“Aquilo que se aprende dentro desse contexto de violência acaba se reproduzindo na relação doméstica, na relação de trabalho e em outras relações, em outros contatos sociais”, afirmou.
Gustavo Batista também comenta que vêm se repetindo no Brasil os casos de crianças e adolescentes vítimas de balas perdidas em zonas periféricas.
“É uma bala que não é tão perdida assim porque ela encontra quase sempre aqueles mesmos alvos: pessoas pobres, negras, periféricas, de bairros mais afastados dos serviços públicos e de acesso também a todos os outros bens inerentes de uma vida social adequada, que envolve também áreas de lazer, centros comunitários, a presença de escola e etc”, explicou.
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