SAÚDE
Um ano de vacinação contra a Covid: 1ª imunizada na PB fala que não se vacinar é ato de desrespeito
Estado enfrenta uma falta de dados e não é possível precisar quantas pessoas estão imunizadas atualmente. Apesar disso, infectologista diz que imunização na Paraíba é um sucesso.
Publicado em 19/01/2022 às 15:14
Em 19 de fevereiro de 2021 a Paraíba dava um passo de esperança para a população: a enfermeira Marineide Rodrigues Gouveia Ferreira, de 60 anos, foi a primeira pessoa a se vacinar contra a Covid-19 no estado. Um ano depois, ela pede mais respeito pela vacina: "Não vacilem. Acreditem na vacina. (...) Vacinem-se, respeitem nosso trabalho, respeitem as pessoas que morreram. Se autovalorizem e tomem a vacina. A vacina é eficaz".
Apesar do sucesso da campanha de vacinação, que nesta semana deu um novo passo ao iniciar a imunização de crianças, a Paraíba enfrenta uma falta de dados e não é possível precisar quantas pessoas estão imunizadas no estado atualmente.
Segundo a Secretaria Estadual de Saúde (SES), os sistemas e-SUS Notifica, Sivep Gripe e SI-PNI não estão funcionando em sua totalidade desde o ataque hacker sofrido pelo Ministério da Saúde, o que prejudicou o registros dos dados vacinais.
O infectologista diretor do Complexo de Doencas Infecto Contagiosas Clementino Fraga, Fernando Chagas, enxerga com preocupação o apagão dos dados nesses últimos meses. Ele acredita que a ausência dos números dificulta o acompanhamento do avanço do estado quanto a imunização.
"Sem ter um levantamento fidedigno de quem falta uma ou duas doses temos dificuldades de planejar ações. Nem todos os municípios possuem informações nítidas como é o caso da capital, e esse papel é dos dados disponibilizados pelo Ministério da Saúde", explicou o médico.
Segundo ele, 53 mil pessoas estão com déficit na segunda dose. Só se tem exatidão quanto a esse número por causa dos dados do município, e isso permite planejar mobilizações como busca ativa e semelhantes. Para Fernando, sem os números do estado se abre uma lacuna nesse sentido.
De acordo com o último dia com números registrados, 11 de dezembro, 3.092.431 pessoas foram vacinadas com a primeira dose e 2.490.146 completaram os esquemas vacinais. Desses, 2.425.852 tomaram as duas doses e 64.294 utilizaram imunizante de dose única. Sobre as doses adicionais, haviam sido aplicadas 10.450 em pessoas com alto grau de imunossupressão e 331.685 doses de reforço na população.
Média de mortes e ocupação de leitos caiu
Mesmo sem atualizações da quantidade de paraibanos vacinados, Fernando Chagas afirma que a vacina é um verdadeiro sucesso no estado.
"Basta a gente comparar os números. Janeiro do ano passado nessa mesma época, a média de morte ficava entre doze e quinze, chegava a dezesseis mortes dia. Atualmente, com o estouro de número de casos de Ômicron, a gente vem chegando aos quinhentos casos por dia. A gente continua com a média de mortes entre um e três, tendo dias consecutivos com número zerado — o que é muito bom", disse ao Jornal da Paraíba.
Outra prova em relação ao sucesso da vacina é no número de ocupação de leitos no estado. Mesmo com o aumento tão grande de casos e atendimentos de urgência nas últimas semanas, a ocupação dos leitos continuam baixas. No dia 18 de janeiro de 2021, um ano atrás, a ocupação de leitos de UTI em todo o estado era de 56%. Na região metropolitana de João Pessoa, 55%; em Campina Grande, o mesmo setor tinha taxa de 65% e no Sertão, 72% dos leitos de UTI estavam ocupados.
Já nesta terça-feira (18), a última atualização do boletim da SES informou que a ocupação total de leitos de UTI na Paraíba é de 22%. Em João Pessoa, o percentual é de 32%. Em Campina Grande, 10% dos leitos estão ocupados. Já a ocupação no Sertão é de 37%.
Esses bons números, segundo Fernando, também refletem na diminuição dos leitos Covid em unidades de saúde. "A gente não está percebendo uma pressão no sentido de forçar a abertura de novos leitos", explica.
O infectologista explica que a vacina diminui transmitibilidade do vírus, por isso é tão eficaz. Segundo ele, a pessoa vacinada tem 25 vezes menos chance de adoecer e, quando adoece, a pessoa não evolui pra forma grave. Apesar disso, pessoas com idade avançada com comorbidades ainda apresentam uma fragilidade grande, mesmo vacinadas.
Por esse motivo a orientação do uso da máscara e os cuidados como distanciamento social, para que a doença não passe de pessoa a pessoa, devem ser mantidos. "A resolução desse problema é orientar as pessoas que estão sintomáticas a proteger as outras usando umas as outras e não sair de casa", disse.
A expectativa do médico é que com o avanço da vacina, que a média de mortes diárias pela doença zere. Para isso, ele explica que é necessário vencer o negacionismo, ampliar a cobertura da segunda dose e também vacinar as crianças.
"Valorize a ciência"
Marineide Gouveia recebeu a primeira dose contra a Covid-19 durante uma solenidade realizada na sede da Secretaria de Estado da Saúde (SES), em João Pessoa. Ela é enfermeira há 17 anos e trabalha há desde março de 2020 atua na linha de frente da doença, no Complexo Hospitalar Clementino Fraga.
Ela diz que ter sido surpreendida com a escolha de ser a primeira e o fato foi um marco em sua vida. Marinelde conta que, na ocasião, estava de plantão na UTI quando encontrou uma equipe médica que deu a notícia. "Eu estava ali com um ato de responsabilidade muito grande por falar não só da pandemia, mas do nosso trabalho em relação aos acometidos pela doença; o nosso objetivo de salvar vidas", relembra.
Desde então, muita coisa mudou em sua vida e hoje ela consegue ver mais esperança. Um ano atrás, ela via na Paraíba uma situação de dor, calamidade, tristeza e medo do desconhecido.
Onde o medo tentava prosperar ela encontrou na união multiprofissional e na ciência uma esperança: "como faz parte da nossa profissão essa missão de salvar vidas então a gente teria que abraçar a causa; trabalhar como se tivesse assim um campo de guerra (...). É aquela decisão naquele momento de de ser tudo ou nada. Então essa questão de humanização, essa questão de união, essa questão de troca de conhecimentos, valeu muito".
Por estar na linha de frente há tanto tempo e ter sido a primeira a receber a vacina, é o mais difícil lidar com o desrespeito à saúde que ela vê ultimamente.
Ela afirma que as medidas de segurança contra o vírus, como estar com a imunização em dia, usar máscaras, higienizar as mãos e evitar aglomerações, devem e são fáceis de ser cumpridas —porém muitas vezes a população prefere ignorar a pandemia.
Tomei a primeira dose, tomei a segunda, tomei a terceira e estou 95% protegida, né? Cada vez mais encorajada pra continuar nessa luta. Então, por favor, reconheçam isso. Reconheça o trabalho dos profissionais da saúde de modo geral, que vocês também com isso estão salvando vida (...) Valorize a ciência, valorize os profissionais da área da saúde, valorizem os enfermeiros que ficam diuturnamente ao lado do paciente", disse.
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