COTIDIANO
Padre é acusado de intolerância religiosa em missa: 'por que orixás não ressuscitaram Preta Gil?'
Declaração viralizou nas redes sociais por conta das falas do Padre Danilo César, que é o pároco de Areial, no Agreste da Paraíba.
Publicado em 29/07/2025 às 13:22 | Atualizado em 29/07/2025 às 20:08
O padre da cidade de Areial, no Agreste da Paraíba, Danilo César, viralizou nas redes sociais por falas contendo intolerância religiosa durante a homilia de uma missa no qual presidiu. Na cerimônia, ele usa o caso da morte da cantora Preta Gil para desdenhar de religiões de matriz africana. Uma associação religiosa indio-africana registrou um boletim de ocorrência sobre o caso.
O Jornal da Paraíba entrou em contato com a Paróquia de Areial, que é de responsabilidade da Diocese de Campina Grande, que não retornou aos contatos até a última atualização desta matéria.
No vídeo de grande repercussão nas redes sociais, o padre cita o caso da morte da cantora Preta Gil, que faleceu nos Estados Unidos em 20 de julho, vítima de um câncer colorretal, como forma de desdenhar de religiões de matriz africana.
“Eu peço saúde, mas não alcanço saúde, é porque Deus sabe o que faz, ele sabe o que é melhor para você, que a morte é melhor para você. Como é o nome do pai de Preta Gil? Gilberto Gil fez uma oração aos orixás, cadê esses orixás que não ressuscitaram Preta Gil? Já enterraram?”, disse durante a homilia.
Ainda durante a cerimônia, o padre continua as falas intolerantes. Após citar o caso de Preta Gil, ele fala diretamente aos fiéis que estavam o acompanhando na Igreja de Areial para pararem de procurar essas “coisas ocultas” e que “o diabo os levasse”, se referindo aos católicos que fazem pedidos para entidades de outras religiões.
“E tem católico que pede essas coisas ocultas, eu só queria que o diabo viesse e levasse. No dia seguinte quando acordar lá, acordar com calor no inferno, você não sabe o que vai fazer. tem gente que não vai aqui (Areial), mas vai em Puxinanã, em Pocinhos, mas eu fico sabendo. Não deixe essa vida não pra você ver o que acontece. A conta que a besta fera cobra é bem baratinha”, disse.
Nesse trecho o padre parece se referir a algumas pessoas em particular quando cita que alguns fiéis não fazem outras práticas religiosas na cidade onde ele é pároco, mas procuram isso em cidades vizinhas.
O padre relatou também no vídeo uma história envolvendo uma mulher e sua filha que, conforme ele, teriam o procurado após essa mãe “consagrar” a filha para “essas entidades desconhecidas que têm vários nomes”. Ele associa a prática de matrizes africanas com doenças e morte.
“Eu já fui fazer as exéquias na minha cidade natal e uma mãe desde cedo tinha consagrado a filha a essas entidades desconhecidas que têm vários nomes, ela morreu cedo e a morte dela foi uma morte tão sofrida. E eu lembro quando ela dizia que ‘tinha sido a besta fera que tinha vindo buscar a filha dela conforme tinha prometido’, olha a conta, um filho”, disse.
As exéquias que o padre cita na fala dele se trata de uma cerimônia fúnebre realizada pela Igreja Católica para fiéis após a morte.
O vídeo no qual o padre faz as declarações foi postado inicialmente no Youtube da Paróquia, em uma transmissão ao vivo, no entanto, até a última atualização desta reportagem, o conteúdo foi tirado do ar.

Entidades condenam fala do padre
A Associação Cultural de Umbanda, Candomblé e Jurema Mãe Anália Maria de Souza emitiu uma nota de repúdio sobre as falas do padre, condenando a postura. Conforme a associação, ele distorce a religião.
"Deus é amor e respeito ao próximo, onde infelizmente esse senhor que se diz sacerdote prega o ódio e o preconceito e ainda amedronta em pleno culto em sua igreja", diz parte da nota.
Em contato com o Jornal da Paraíba, o presidente dessa associação, Rafael Generino, disse que registrou um Boletim de Ocorrência na Polícia Civil pelo crime de intolerância religiosa e também informou que vai realizar a denúncia no Ministério Público da Paraíba (MPPB) sobre as falas do padre.

A reportagem também entrou em contato com o delegado Danilo Orengo, responsável pela delegacia de Areial, que disse ter tomado conhecimento do fato pela imprensa. O delegado informou que recebeu o boletim de ocorrência, mas quem será responsável pelas investigações será outra delegada. Investigações estão em curso.
O presidente do Fórum de Diversidade da Paraíba, Saulo Gimenez, disse ao Jornal da Paraíba que o órgão também condena as falas do padre, pelo teor, e também pelo local que foi proferida as palavras, o altar da igreja.
"É uma lástima para todos nós que, em pleno século XXI, depois de uma pandemia que deixou mães sem filhos, amigos perdidos, no meio de uma crise mundial, várias guerras, pessoas perdendo suas vidas, um sacerdote usar o seu lugar sagrado, usar o seu sacerdócio para destilar um veneno tão sórdido como o ódio, como as intolerâncias. Usar um espaço que é para falar de amor, de compreensão, de solidariedade, mas não, está ali sendo cruel", ressaltou.
O órgão informou que vai continuar acompanhando o caso e vai prestar suporte à associação, além de "encaminhar às autoridades compententes para retratação do padre".
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